A VISITA
Tão bela a noite! Rogo à Alba, conceda a mora!
Soprava o vento, bailavam as flores
Lembrava-me, ó ardores!
As madeixas morenas das Helenas de outrora...
Miau! Quebra-me o silêncio e o devaneio!
Foste tu vento? Mensageiro talvez d'um libelo
Fosse eu réu pelo anelo
Ou traição na noite, sob a luz do candeio!
Mas qual! Deixai o vento - Inocente!
A mente prega peças, enganos
De certezas vivem altivos os ufanos
Volta, pois, a teu sonho prepotente...
Miau! Abjuro! Rogo a Zeus!
Quem, vindo na noite vocifera
Diz se és demônio, homem ou fera
A apontar pecados dentre Saduceus!
Miau! Outra vez me atormenta...
Quem sabe Afrodite! Os lábios - Cálice das delícias
Ou Hera, reclamando devoção, toque, carícias...
Quem sabe a Quimera, trágica, soltando fogo pela venta!
Ó alma aflita! Não chorarão por ti cândidas ou meretrizes
Aperta ao peito o retrato de Irene, outrora teus sonhos felizes
Se me cobra os pecados, senta à mesa e toma o vinho...
Feliz de Homero, que terminou a Odisseia!
Urge o tempo! Sufocarão teu suspiro, como as cinzas à Pompeia!
Veste o luzido terno de linho!
Revela-te! Há de ser teu jugo a palavra final!
“E o silêncio respondeu”: - Miau!
Observação
=========
Explicando um pouco este texto, retrata a visita surpresa de um "ser", que causou medo e receio a uma alma, certamente culpada, onde os temores eram seus próprios "monstros"!
André da Costa
Enviado por André da Costa em 04/05/2025
Alterado em 05/05/2025