Chamada A Cobrar
O Corpo estava deitado, rígido! O cheiro forte de flores tomava o ambiente. 3 da tarde, é chegada a hora.
Sônia chora copiosamente, afinal seu avô e ela eram muito ligados afetivamente. Foi uma perda que ela iria sentir demais.
Chegando em casa, todos tentavam retornar a rotina porque, afinal, a vida continua. Problemas a serem resolvidos, contas pendentes, filhos... sim a vida poderia continuar mas nunca seria a mesma para Sônia.
Carlos, seu marido, tentava em vão consola-la. esse era um momento difícil que teriam de passar a dois.
Como católicos que eram, sabiam orar, confiavam em Deus e que seu Alberto, o vovô, estaria nesse momento num lugar feliz, em paz. Afinal o amor vence a morte. Sônia sempre acreditara nisso!
Os parentes se foram, casa vazia. Uma grande tempestade se fez.
Raios e trovões ribombavam no ar. O clima da morte de seu avô já dava ares pesados à casa. A tempestade veio para piorar tudo.
Vamos dormir – disse Carlos. Amanhã é um novo dia, nossos filhos dependem de nós, confiam e se espelham em nós. Temos de parecer forte!
Três da manhã. O telefone toca. Sônia atende sonolenta. De repente, dá um grito estridente e joga violentamente o telefone na cama
Assustado, Carlos pergunta
- O que foi ? quem era à uma hora dessas?
Sônia chora copiosamente
- Carlos... era uma ligação a cobrar. Esperei para ouvir a voz para autorizar ou não a ligação e... parecia a voz do vovô!
- Sônia você está nervosa, essa tempestade, as coisas que você passou hoje... claro que não era seu avô, ele morreu. você sabe!
- Mas era muito parecido... parecia estar nervoso, agoniado... aflito... parecia demais com a voz dele!
- Sônia, olha, tente dormir novamente, você está confusa, é normal... é óbvio que foi engano. Vamos, tente dormir um pouco, estamos todos muito nervosos!
4 horas da manhã e toca novamente o telefone... Sônia atende correndo. Desliga rápido e chora copiosamente
- O que foi... quem era ?
- De novo... a ligação a cobrar... esperei e ouvi novamente... era a voz do vovô!!!
- Olha Sônia, está na cara que estão passando um trote para você. É alguém que você conhece, provavelmente sabe que você está fragilizada e está se aproveitando da ocasião! Uma brincadeira de muito mau gosto. Mas vou descobrir quem foi, a isso vou!
5 da manhã... toca o telefone.
Ambos decidem deixar tocar, sem atender. Tocou, tocou, tocou...
Os raios ribombavam no céu e o vento açoitava a casa como que querendo arrebatar a tudo e a todos!
Na manhã seguinte, no café da manhã, Sônia está uma pilha de nervos, não dormira a noite toda. Carlos tenta acalma-la mas ela jura que era o seu avô. Essa brincadeira de mau gosto a afetou psicologicamente. E muito!
O tempo passa, Sônia não esquece o avô. Era óbvio que ficara traumatizada com aquela noite, com aquela brincadeira idiota e irresponsável!
Por mais que seus parentes reunidos tentassem convence-la, ela não comia direito, perdera as forças para cuidar dos filhos, estava com crises de depressão!
Carlos decide leva-la a um psicólogo amigo da família.
- Sônia vamos ao Doutor Aroldo, ele vai conversar com você e poderá ajudar nessa crise de depressão
Chegando lá contaram o ocorrido, conversaram muito. Dr. Aroldo viu o estado deplorável em que Sônia se achava e recomendou uma terapia muito desagradável, porém necessária para a situação de Sônia.
Teriam de abrir o caixão de seu avô, para que Sônia visse pessoalmente seu corpo, morto, descansando em paz!
Isso iria neutralizar o trauma causado pelo trote
Marcaram a data, 25 de Julho. Seria um sofrimento para todos mas a saúde de Sônia dependia disso. Toda a família aprovou o tratamento tendo em vista o estado de Sônia
Dia 25 de Julho. Sônia, Carlos e dois parentes se abeiram do túmulo.
Seria agora o término de um longo sofrimento para todos... e a cura de Sônia, que veria ali seu avô, apagando para sempre a sensação absurda de que ele ainda estaria vivo!
Ao abrir o caixão, Sônia desmaia. Carlos cai em choro convulsivo... os coveiros ficam atônitos. Nunca em 30 anos viram algo assim.
Seu avô estava morto, braços distendidos dentro do túmulo, e em sua mão direita... um celular prateado entre os dedos!
André da Costa
Enviado por André da Costa em 20/09/2006
Alterado em 20/09/2006